
Uma frágil brisa desprende-se da porta. Maria acende um cigarro. A prostração deitada no divã. Apaga o cigarro. Sinais de fumaça na sala. Ele acaba de chegar. Um único olhar, e ela sobre os pés dele. Na rua, o barulho da chuva. Ele senta e pede para que ela conte mais sobre os seus dias. Dias de humores volúveis. Disse a ele que tinha travado uma batalha e que o oponente sequer havia lutado, tinha apenas desistido, assim, sem mais nem menos. Uma batalha onde não há vilões ou heróis, por mais que heroína ela fosse, sempre seria o lado do mal, a vadia, a incoerente e a mulher apaixonada pelo passado. Ele pegou um papel e escreveu:“ Desvio de moralidade”. E ela continuou... Eu sou aquilo que sou. Aquilo que você daí consegue enxergar. E ela não conseguia parar de falar. Era isso ou render-se a ele. As gotas de chuva pela janela. Os olhos dele. A voz firme dele. A dúvida dela. Ele deitou ao seu lado no divã, passando a mão devagar pelos seus cabelos agora longos. Por um momento ela sentiu a paz. E de repente sentiu um carinho urgente sobre sua nuca, coxas... Ficaram bem próximos, tão íntimos por alguns minutos. Essa era a terapia.