segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Superare.

Imagem : Fall_dark_angel



Ele tinha um jeito de andar, lento. Repleto de minúcias.
Até agora e excessivamente. E tinha um pouco ar de saber de tudo.
Ele era desse jeito. E um claro “Sinto a tua falta” sem demora recordava-me páginas de alguns livros passados. Como se a minha vida inteira estivesse empoeirada na estante.






Aula de corte e costura.


Sem querer parecer soberba, arrisco em dizer-lhes que ninguém nunca irá compreender a insensibilidade que devoto em algumas ações. Ninguém compreenderá que no meu interior pungente, áspero, tantas vezes amargo, existe uma mulher que ama uma criança. Ninguém compreenderá, em tempo algum, que todas as coisas que suporto foram cicatrizadas pelo meu próprio espírito esquecido de costurar as fábulas ou fazer carinho no adversário.
O desígnio da minha fausta aparência por todos esses dias. Olho para o espelho e pergunto quem eu realmente sou. Se fútil, filha, mãe, poeta, alcoólatra, amante, amada.
Ali, fico nua, até mesmo do contra-senso. Minha alma protesta cansada da minha própria existência. Enfastiada de tantos versos tristes, de tantas lágrimas, de tantos risos forçados, de tantos amores desperdiçados, de tanto circo, tanta encenação.
Elevo o meu olhar, de um amarelo esverdeado, da cor do carnaval, presto atenção nas maçãs salientes do meu rosto, dos meus lábios preenchidos pela natureza, na tatuagem do meu braço... Chego perto do que não consigo ver, ou colocar as mãos, entro no meu lado de cá, a sarjeta, a origem. Desmanchada, reivindico melhorias em todo o meu ser. Depois disso pude enxergar uma caixa de papelão amassada e nela havia cola, linha e agulha.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Meia-noite.

Imagem:greenLemonade

Era uma vez uma cidade entre o diafragma e meu estômago. No interior da virtude que ataca os órgãos e da experiência abstrata. Ele a tinha de cor. Em alguma rua, entre a musculatura e o espaço intersticial, flutuando pelas minhas artérias femorais ao passo que meu coração pára - batimento indelicado e caprichoso que assevera a tua constância por algumas horas a mais, por tempo indeterminado.
Algumas circunstâncias apoderam-se da nossa essência; como se existisse em nós, inesperadamente, vários olhos, muitos paladares, inúmeros corações.De um sabor extraordinário e azedo que compara finalmente , algumas peles, e regiões. Norte , Sul, Nordeste e Sudeste. Reflexo de mim, na minha falsa herança. Algo que não deveria tomar conta do meu peito, mas agora...

Estrela cadente

Imagem: Fallingstar



Essa dor, para mim, em todo o tempo possuiu um certo traço, preto e branco.
Hoje, exclusivamente, devo traçar um aroma.
Deveria traçar um ou outro.

Último beijo



Fato: Muitos acontecimentos puramente têm um sabor que custa deixar os lábios ou os olhos.

Devaneio.

Imagem: Fatboyslimgirl

Ai! Que saudade de caminhar por aí.
Nua.
Ter um encontro com o vento.
Paquerar as estrelas.
E sentir o sabor do mar.
Há mar?
Amar!

Paradoxo.

Imagem: Drummergirl

Já me acostumei em escrever versos alegres e pensar que a minha existência é infeliz.
Antítese.
A mais justa, depois de tantos anos...


O carnaval de Maria.


Era um dia anterior ao carnaval, seu dormitório estava sendo restaurado.
Tudo estava no conserto, inclusive seu celular.
Vestiu uma roupa.
Desceu as escadas em busca de um “orelhão”.
Ela não sentia-se diretamente magoada.
Sua angústia havia trocado de lugar com a mágoa.
E após essas misturas de sentimentos...
A apatia privava-lhe totalmente de qualquer sensibilidade.
Alguns sofrimentos – Especialmente os que antecediam às promessas verbais- Acabavam em poucos segundos. O remorso, todavia, não.
As avenidas lotadas de carros, pessoas eufóricas, buzinas e muitas marchinhas.
Gostava de falar caminhando, mas ali ficou naquele objeto preso, fitando seus pés.
Um carro preto estacionou perto do telefone público. Ela desviou o olhar. Logo após, percebeu um braço a enforca-lhe, puxando o fio de suas delicadas mãos. Sentiu um frio na “espinha”, mas era uma arma. Foi obrigada a entrar no sedan preto.

O que está olhando?

Olhou então para os lados. Havia uma calcinha azul no banco do carro.

Vamos dar uma volta!


Pra onde? (Pensou).Chegada a hora da sua morte. Nenhuma mágoa ou ódio.
O desenho era um lugar sombrio. Sem luzes, pierrots, confetes...
Ali ele havia estacionado o carro.

Vamos fazer um pouco de amor!


Calada. De olhos quase fechados. Sem ironia, um pouco talvez.
Devia ser breve. Sem pestanejar. Uma fantasia rodando, verde, rosa, verde, rosa.
Na parte inferior, uma calcinha azul, meia-calça. Seria uma passista? Achava que não. Isso não pode ter significado. Deve ser imparcial.

Usa pílulas?

Não.

É solteira?

Sim, não tinha um namorado.
Disse que falava com a mãe no telefone.
E que jamais falaria isso para alguém.

Vou levá-la de volta ao orelhão!

Com as pernas trêmulas, o vestido desabotoado, com a calcinha na mão. Voltou.
Atravessou a avenida. Nenhuma lágrima dos seus olhos. Correu por entre o Cordão da Bola Preta. As pessoas notavam-lhe surpresas, ainda sem nenhuma lágrima. Um silêncio no bloco.

Subiu as escadas. Foi direto para o banheiro. A água caía, tépida, fitava seus pés.

Ela jamais derramou uma lágrima que fosse. Ninguém soube. Só nós.

Imagem : b1oodlust

sábado, 24 de janeiro de 2009

Big Bosta.

Imagem: Annika


- Ai! Agora não. (Sussurra a participante com uma risada idiota)
- Mas já passou de meia noite.
- Por isso mesmo. Muita gente está dormindo.

Aleive

Ele acordou com um ar determinado.
Uísque, cigarros e uma faca na mochila.
Foi atrás de Maria.
Ela entrou na igreja.
Foi-se exausta, com os olhos ternos e saciada.



Imagem: Scalerthana

Opções.

Imagem : Mojorison

Assinale a alternativa correta abaixo:

( ) mês

( ) ano

( ) dia

(X) poesia


quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Paz,(is),(ís)?


Jacob despertou-se com o admirável sossego que bordejava onde morava. Seu pai tinha ido comprar alguns matzás. Era melhor assim. Os dias estavam muito arriscados ultimamente. Então, sozinho, ele aguardava. Seus coleguinhas? Não os via mais.Procurava saber sobre eles com seu pai, mas a resposta era um olhar sobressaltado e árido. Não chovia mais nos olhos dele, começou por um triz a sentir falta de quando chovia nos olhos do seu pai, até mesmo quando sua mãe havia partido. Olhava para o horizonte e na tela de pintura somente destroços. Sua cidade estava arruinada. Nas ruas, cadáveres estampados como azulejos. Projéteis sólidos desenhavam o chão. Perguntou para o pai para que servia aquele metal. E com os mesmos olhos secos, explicou-lhe. Sentia sede. Segurou o choro, não era permitido soluçar alto naquele local. Nenhum ruído. Só ruínas. Mas não conseguiu. Olhou para o céu e caiam gotas nos seus olhos. As lágrimas deslizavam-se, tímidas e silenciosas pelo seu rosto. Sentia muita sede. E bebia o líquido que beijava seus lábios. De um amarelo pálido, da cor do deserto. Seu coração sangrava da mesma maneira quando perdera o pai. Andava por entre as ruas, os corpos, as armas, os soldados... Sentou-se e chorou! Clamou por seu pai. Ali mesmo, de joelhos. Pôde ouvir o som da própria voz. Nenhum barulho. Nem as bombas, nem as guerras, nem sinal da terra prometida. Pegou o projétil e abraçou com seus braços pequeninos. Olhou para o céu, já com o olhar estéril e peito apertado e fez um pedido. Eles regressariam.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Uns dias.


"Eu estive fora uns dias.Numa onda diferente.E provei tantas frutas.Que te deixariam tonta."

[Paralamas do Sucesso]

Escolhas.

Imagem : Vachi

Em certas (inúmeras) ocasiões recordo de ti.
Refreio-me.
Guardo-te nas lembranças das tardes lindas de inverno.
Construídas numa BR- cento e pouco qualquer.
E termino-te nas bordas do meu vestido.
Da época em que provava teus lábios macios.
Só assim para não perder-te pelo anseio do meu corpo.
É insuportável apagar-te de mim.


[ Perdão! Já não consigo escrever-te mais...]



Retrato de uma (1/2) vida


Ela atravessa a rua.
Meretriz das horas.
Prostitui-se sem prazo.

Desfila, única e silenciosa.
Está adiantada.
A vida eterna a conduz.
Desprezando qualquer forma de amor.

Nos lábios, o gloss do inesperado.
Na cintura, a fragrância dos riscos.
Cruza a calçada trajando delicados propósitos.
Provoca seus admiradores e seduz quem deseja pra si.

Ao notar que suas aspirações a seguem de perto.
Destrói-se entre um prazo e outro.
Escapa das horas.
E as horas dela.

Antecipa os serôdios segundos.
Esquece do contrato assinado.
Protela-se naquele quarto escuro.
Frio.
Com o homem estranho da vez.

Atraente, desfila-se descoberta.
Olha pro teto com espelhos...
E sonha passear por entre linhas.
Entre as curvas dos versos.
Ela já passou por aqui.
Algumas vezes.
Seu nome é Maria.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Cinzas


Para não partir depressa
Ela acendeu um cigarro.
Uma desculpa (!),
Quase charmosa de prendê-lo.
E ele ficava por mais tempo.
Parecia sexta-feira.
A fumaça apontava para uma outra direção.
Para ela.
Pára.
Puro capricho.
O desejo:
De qualquer coisa.
Ou de alguma pessoa.

- Está no final, aceita?
- Claro. Dessa vez, eu juro, será o último trago.

Ela segurava o cigarro ainda inteiro.
Na mão direita.
Mesmo assim ele partiu.
Naquela noite que parecia sexta-feira.
Mas era quarta-feira de cinzas.
-Como todos os outros dias-

Só.




Na falta do que dizer...
Investigo teus sinais sobre meu corpo.
-Mudo-
Dou-te as falas.
Sem que ouças meu nome.
-Em silêncio-
Não desejo-te por essas falas.
Desejo-te. Apenas.

Só.




Onde está você?


-Quem dera que a minha lembrança fosse a estrada mais curta para acabar com essa distância-


Faz falta esse teu beijo resumido...

[...]

sábado, 17 de janeiro de 2009

Página II



Se acaso me deixares.
Deixe a chave da porta embaixo do tapete
Não tranque a luz que entra pela fenda.
Desenhe as paredes.
Deixe tua assinatura.
Previamente à tua fuga.
Conserva estes versos naquela caixinha de música criada pelos meus pensamentos.
Observa se o gracejo dissipa-se entre nossos contos.
Para repercutir o sorriso inventado.
Amarrado no século anterior.
À tua fuga.
Vá em frente.
Deixe a chave na porta.
Minhas rugas de expressão debaixo do tapete.
E os vários tons que te apresentei no meu olhar
.

A rede.

Imagem : HiddenHallow

Deitou-se na rede. Fechava os olhos e tentava trazer à memória a época em que caminhava tranqüila pelo jardim. Colhiam-lhe flores todas as manhãs. Ela abria as cortinas para deixar entrar um pouco de luz. Sempre com um sorriso de sol. Mesmo quando sua alma estava nublada. -Ele tinha olhos cor de sol. - Recordou-se. Ao lembrar, percebeu que os olhos dele não tinham mais o mesmo tom, todos os dias tinham uma cor diferente. Conforme o tempo passava. A última vez que o viu tinha um tom acinzentado, embaçado. Em seguida, o afastamento. A ausência de ruídos. Nenhuma pessoa pôde lhe explicar. Lentamente observou o desamparo total destes dias. Marcas de hipocrisias e descuidos de alguns manchavam as paredes por onde a rede estendia-se. Até que todos desviaram-se de vez. Sumiram. Ela continuou e aos poucos não trazia à memória a luz daqueles olhos da cor do sol. Por muito tempo não conseguia passar em frente ao jardim. Muito tempo, os de casar, ter um cachorro, uma casa de vidro, de ser feliz. Estava sozinha com as suas recordações. Olhava como a parede havia desmanchado. Por fim, conseguiu encará-la. Agora sabia que a vida não era feita de sonhos. Mas da fé depositada neles. Fé que faltara para dar luz aos olhos dele.

De uma hora para outra


Era uma vez um amor...Que navegou contra a maré e perdeu-se.Entre dois corações desta época.De uma hora para outra, de uma hora para outra.Como era feito de poesia, coloquei em meu peito, nos meus versos.Mas não sobreviveu. De uma hora para outra, de uma hora para outra.Não! Não creio.Disseram-me sobre um homem que tornou a viver.Mas agora ele morreu de vez.Nunca mais apareceu.Não nesta época.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Chama-me.


À noite, faço um passeio, pisando em estrelas feitas de caco de vidro.
[Na ponta dos pés] Ando pela minha memória, vejo-te. Sigo os teus passos.
Pegadas de vidro. No final da avenida, vejo os teus olhos, gotejando a tua essência.
Sem pedir licença, abro a janela da tua alma. Como uma gata, eu pulo. Resta-me ainda uma vida. Invado teus pensamentos e deixo-te uma breve ironia. Com um papel de presente, em preto e branco, embrulho meus desejos e deixo à tua porta. Junto com um bilhete cheio de toques destemidos e não esperados. Há um incêndio dentro de ti. Declaro-me culpada. Inflamo-te!


- Saia daí. Venha fazer morada em mim. Aqui sim, é mais seguro.

E assim acaba mais um sonho, meu!





terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Máscara

Imagem: Midget

As tuas traições.

Cantam...

Muitos falsetes.

Para soarem.

Menos graves.



Make a wish!

- Faça um pedido -

Imagem:DxbChild


Imagem : Anuk

- Ah, não! De novo não(!)

Parece que dizes...

Imagem : Kassyd


- Nossa! Como ela está estonteante! Está com aparência de outra moça.
- Exato. Ela reconheceu que não é mais a moça do Francisco.
-É somente Maria-


segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Deitada.


Imagem: Orzz

É o sonho.De valsa.Um círculo.Vicioso.De percorrer o mar. Um navio. Na internet.Navegar.É o solo. De jazz. Da Terra. De Marte.Passo. Sem compasso.É o som. 1,2,3,4 testando.É o ressonar. No sono. É o céu. Da boca. A correnteza de água. Viva!São esses versos. Sem nexo.Complexos... No plexo. No vaso.Da minha flor.


365 Volts.

Imagem : FatalMichael


Compõe-te nos meus devaneios
Intensamente,
Desejo que vá pro espaço!
... O dos meus dedos.






Uma carta para Maria (Madalena)

Imagem by: Chick




Ah, Maria!
Ordeno-te lentamente que não preciso de réplicas.
Sussurro-oriente de um sol repleto de interrogações.
Onde brota uma corrente de luz.
Eu recuso-te, Maria.
É possível que eu te diga em voz baixa...
Que já não lembro mais de ti.
Por causa dos kilômetros espinhosos que tive que andar.

Longa jornada interior em busca de ti.
Porém, se meu rezar súbito;
Chegar às tuas preces...
Verás que estou dividido em partes.
Metade a caminho do sol e a outra perdida na correnteza vazia.

Rumo à pequena embarcação acostada no brilho do teu olhar.
À procura de outra estrela.
Ou outra
quinta nota da escala natural.
Nascerás um novo céu...
Não mais azul, mas da cor dos olhos teus.
Ou da cor dos teus lábios...
Vermelhos.
Vestígio da tua música em mim.
Pois é, Maria.

Vendaval



...Os teus versos inventaram a fábula dos meus. Jogaram confetes no enredo das minhas palavras. Fizeram enxergar fogos de artifício através das pontas dos meus dedos. Cometas no céu da minha boca. Os teus versos inventaram uma pequena casa. Fiz morada. E cá estou, por todo canto. Por todos os lugares... Antes da quarta-feira de cinzas...

Imagem : tashaxp