segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Cidade de Deus(?)



O vazio ocupava a área inteira de uma vila.
Ainda assim, a Cidade de Deus havia decidido fazer morada no meu peito.
As pessoas, a comunidade, os prédios, a associação dos moradores...
Pra ser sincera, a sua metragem era desconfiável.
Porém não havia mais espaço na minha mente para desconfianças.
Não essas.
10,9,8,7,6,5,4,3,2,1...
(!)
Toda a energia dos fogos de artifício dentro dos meus cálculos.
Ilustradas no olhar de cada criança.
Estudantes, filhos de traficantes, heróis do semáforo, malabaristas...

-Vou fingir que essa noite não tem hora para acabar-


Invisível.


Faz sol.E o raiar da manhã desliza pela janela...Apenas para presentear-te.Com uma fita de cetim amarela.Mas tu não gostas das manhãs claras.Não gostas das cores. Xantofobia pura.Mas mesmo assim...Resolve abrir a janela.E mais uma vez.Inspira tristeza.Ao sentir o presente que não está em frasco, mas tem um aroma quase familiar.Tens Olfacotofobia.Começa a chover nesta segunda-feira de cinzas...E tu gostas, finalmente.O céu tingiu-se então de um cinza-mestiço.Só para agradar-te.. É preto, é branco, é quase cinza.És tu.Refletida no vidro da janela com as tuas boas noites.

Singular


1ª pessoa do plural: Nós.
Tempo: passado.
Presente do indicativo: Eu, no singular.
Não sou mais Luís, Bruna, Rodrigo, Fabiana,
Maicon, Eduarda, Felipe, Carla.
Nós sou.
Com um único receio.
E com um irrefutável significado.

Traste


Perdoa-me
Por minha poesia manchada
Meus verbos estão de ressaca.
Nesta manhã.
Todos os adjetivos ...
Resvalaram das folhas de papel.
Sobrou ainda alguns riscos ao acaso.
Minhas garatujas.
Sem parágrafos ou vírgulas.
Na retaguarda do meu olhar.
O fluxo e refluxo das tuas sensações.
Minhas garatujas.
Rachadas e manchadas.
Sobrou das folhas de papel.
Tornando confuso o que sobrou de parco...
Nas minhas sensações arredias.
Recitar-te...
Que tens a mesma forma de uma guitarra.
Com coração dividido em meio tom.
Afinando a minha música vazia, em agudo.
Que mal soube tirar o som.

domingo, 28 de dezembro de 2008

A seda.


Atrasou-se. Sais de banho, creme com cheiro de morango, sombra. Contemplando a saia de tule enfeitando a janela. Não conseguiu ceder. Fora atraída por ela na vitrina da loja. Fitou com os olhos todos os passos, giros, movimentos. Com cautela, experimentou o trajo. Sublime nas suas curvas. De igual proporção. Olhou-se na taça de cristal. E ensaiou ali cada movimento corporal. Corrigiu a postura. Fouettés. DEBOULÉS. Então, abriu o porta-níquel e lançou a mão até o último metal. Finalmente, a noite do conto de fadas desceu pela cortina. Ela, frágil, delicada, apaixonada estava à espera. Os minutos passavam. Olhou para o seu punho esquerdo, era meia-noite e meia. Abriu seu toca discos empoeirado, abriu um Muscadet, PAS DE DEUX, PAS DE DEUX, PAS DE DEUX com a lua. Festejou até pegar no sono, estonteante, como uma bailarina. Sentia-se sozinha. Naquele cômodo frio, num vilarejo qualquer.Ela fazia 26 anos.

sábado, 27 de dezembro de 2008

As lágrimas...


- Quando vai parar de
chover aqui dentro? -




- Uma pausa -

- Fumar ou não ? Eis a questão. -

Teoria do cordel


-Recorda-te do cordel sem cor que nos enlaçava a cada ensejo solitário?
- Eu sentenciava estar perto de ti...
- E tu, de mim, oras... Como se o vão que existia em nós fizesse parte de uma figura de linguagem.
- Metáfora?
- É. Como se ao olhar no espelho eu pudesse estar próxima de ti.
- Como num passe de mágica.
- Fechava os olhos. Pra poder te ver.
- Ah! Os olhos.[verdes] Cordel da tua falta em mim.
- Mas um dia acordei, e a noite era escura, vazia. Tive um sonho ruim. O cordel havia arrebentado. O meu aneurisma latejava. Tive vertigens.Por medo de deixar-te sem laço. Sem estrada. Era sombrio. As luzes haviam fugido. Tive uma convulsão, mínima. Bati com a cabeça. Machuquei meus joelhos. Não lembro bem. Um aneurisma. Os joelhos. A escuridão. O esforço. A heparina. O pesadelo foi embora no mesmo instante que meus olhos, fecharam-se. Para ver-te. O cordel estava pendurado, porém resoluto. Vi a tua imagem. Não me deixa agora. Preciso tanto de ti.


[ Advertência : Love you, dad.]


Idêntica-idade


Os versos atados. Nem uma voz pra uni-los. Locuções interceptadas. Idênticas. Fadiga dos dias. Principalmente, de dia. E de todas as promessas. O prazo acabou. Os minutos levados à força. No caminho estreito, um vão. O nervosismo. O percurso das horas, nulo. Independência. Outras promessas virão. Alteradas. Nenhuma poesia é semelhante. Toma outro aspecto a cada olhar.

Santinha do pau oco


[...]




No século XIX, um menino achou uma estatueta nas ruas e enterrou no quintal, perto do túmulo do seu cachorro. Assim, ele sempre lembraria onde estava escondido seu tesouro. Mas ele esqueceu...

Dizem que santo de casa não faz milagres, era uma terça-feira, ela foi regar as plantas no quintal e achou um pacote sujo de barro. Curiosa, tirou a sujeira. Com medo. Devolveu. Levou pra dentro de casa. Estava com medo. Abriu uma garrafa de licor. Ela usava cocaína. Queria fumar também, mas lembrou que não tinha dinheiro para comprar cigarros.
Ela era de dezembro, nasceu em 1930, da mistura de um violão e poesia. Decidiu fumar versos ao som de Chico Buarque. Ao passo que eu tento imaginar poesias ao som do meu suspiro.
[Carolina, os teus olhos tristes...]
Um brinde às palavras soltas! Gosto mais dos versos amarrados nas pontas dos meus pés.
Pois é, a minha vida respira com dificuldade, mas não existe mistério.

[...]

Ela gostaria de fumar mais versos. E beber mais palavras sinceras.
Voltou no quintal, abriu o embrulho e achou uma imagem.
Quebrou. E dentro, tinha ouro em pó.

Descompasso




[Com um estetoscópio...]

Acabo de auscultar espasmos nos minutos.
Minutos antagônicos aos do meu relógio de punho. Os minutos.
Minutos em itálico para diferenciar os minutos dos demais.
Não os demais.
Os demais em itálico.
Ouço os minutos afastados apesar de enxergar tuas marcas no presente.
Presentes.
Eternamente.
Constantemente, embora os ponteiros já estejam fatigados.
Nem o ritmo, o lugar no qual os versos são embalados possui a candura de curar as chagas e enxaguar as mágoas desta satisfação contida por todas as estações do ano que passou.
O trânsito astrológico está engarrafado. O vento derrubou a garrafa do tempo. E quebrou.
Há cacos de vidro no chão. Peguei com as minhas mãos femininas e colei no meu sangue.
Custa-me a separação inexata no intervalo de cada hemorragia, custa-me a escassez do cronômetro para tolerar a duração de todos os meus atos. Inatos.
Custa-me a miopia tardia a envolver-me com uma máscara que obstrui o canal do passado.
Acabo de auscultar espasmos nos minutos.
Não são mais os minutos, talvez.
Talvez, eu tenha esquecido de comprar as passagens...
[A previsão do tempo: Tempo nublado com pancadas de chuvas]

(E como chovia)
[Nos meus olhos]

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Over-verso

Uma verdade absoluta: Não há perfeição.É uma fantasia influente. Sem igual. A cada
um. Ou quase todos. Inclusive, eu. Alguns reparos aqui. Outros, acolá. Alinhar os erros. Versos com recheio de perfeição. Com uma calda vermelha artificial. E os parabéns vão pra quem? Uma verdade absoluta: Não há perfeição. Atrevo-me a divergir. Há perfeição. É uma pedra preciosa na alma de cada um. Há perfeição em tudo que desejamos, nos versos. Inclusive, em mim.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Ilusão


Se eu tiro a maquiagem e desprezo os holofotes,
Se eu desvisto a protagonista e desapareço na escuridão,
É porque a encenação cansou de mim,
Todos os atos retidos e prenunciados na memória
Rejeito os treinos em tablado de base ilusória!
É com os espectadores que dou um ponto final no teatro
As palavras não compram esta atriz...
São as palmas que massageiam o âmago,
O poder do entusiasmo que sustenta a cortina.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Ex-quadro.


Ah!

Como era prazeroso imaginar meus versos tocando teu corpo.
E como! Como era prazeroso pegar um lápis e desenhar poesias pra ti.
Fazendo esboços das nossas lembranças, das nossas viagens, do que não conseguimos fazer, nem sentir.
O que meu coração fala não dá pra escrever em papéis, pintar em quadros, cantar em notas da imaginação fugaz.
E como! Como era prazeroso, acordar, ver o sol me doando um lenço nos dias que derramei lágrimas por não te ver.
O espírito implora. O espírito foge. O espírito pára.

Os versos, censurados. O som emudece.
Ah! E como...Como era prazeroso te beijar, com meus lábios repletos de devaneios que minha mente roubava de ti. A mente, aquela que cansa meus músculos e me destrói o bom senso em impulsos elétricos interrompidos.
Como era prazeroso ficar imóvel. A observar o vão da minha existência e ocupar-me de ti.
Sentia prazer...Como era bom olhar nos teus olhos e presentear-te calada toda a paixão que rompe os vasos do meu peito.
Ah...
Como era prazeroso.

Pre-fácil




Abro o zíper.
Do teu livro.
Recito o prólogo.
Na minha boca.
As palavras caem.
Beijo-as.
Cuspo uma interrogação.

(*)

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Elipse


Ordenado está. Não existe paradoxo.
O apetite pelo contra-senso é o que existe.

Em ti, eu falaria ao pé do ouvido todos estes segredos.
Sussurraria todo o ceticismo sobre isso, ao redor disso, e no interior de.

Para aproveitar da sua curva elíptica.
Um cálculo improvável: Nossas metades unidas.

Essencialmente inteiros, completos para a minha disritmia.
Um erro. Amasso então, o papel.
Volto a falar no pé do teu ouvido, exatamente por desistir nos nossos passos coordenados.

Na noitada, apenas por uma vez, mudarei meu sabor, encantadora, verá estrelas na minha pele. Várias pontas cortantes, alguns pontos.
Pedaços talhados e vermelho-sangue, minúsculos, a mercê das poesias tingidas que tatuarei na tua derme.
Fincarei sinais cardeais e vinho. Leste, oeste e fim. Ou quase isso.
Vou dar um basta.
E calado, pontuará os meus defeitos.
E vai me pedir pra te contar meus planos...

Tenho uma teoria!
Meu foco não te alcança, mais.
Descartarei tua forma na minha mente.
[Por outro ângulo]: Te vejo.
Dessa vez, desprezível.
Isso é só uma sinopse.

[...]
Em seguida, degustarei um “vin de pays”.

Ouço os sons da cítara, agora.

Passará então a língua sobre as minhas poesias. De fora para dentro.

Ficarás em silêncio, mudo.

Desenharei palavras reais, com pena de ti.

Esculpidas com diamante, ônix e topázio.E dessa vez, vou embora.

[...]

Sinto-me culpado, J.

Mas, não quero outras poetisas ou escultoras nuas.
Seguro o acaso pelos cabelos.
Olho pra dentro de ti. E previamente, segundos antes de ser executado.
Um beijo, Disparo-lhe.

[...]
Bem que me disseram que certas coisas são inevitáveis.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

O hino dessa mulher...


Capítulo da novela.

Prefácio do destino.

O fio de nylon que cicatriza o tempo que passou e ...

Alastra o manual dos teus sinais.

Eu ensaiei o caos exatamente no espaço de 30 dias;


Entre caras e algumas metades.
Destrói lares.

[Um estado de tensão]

Mais adiante
[...]

Um dedo indicador pregado no retrato misterioso onde a imagem é um poema nutrido de enredos, enredos, enredos...

Menina das rimas, dos versos, dos olhos.
Um samba?
As tuas páginas estimulam todos os entrechos suturados.
O que se lê (dela) é sacrilégio.
Conduza a dama, se acaso no “presente” quiser.
Presente meu, palavra em forma de músculo, vício que "brilhou na pátria neste instante".
Subiu na macieira do meu jardim, mordeu a fruta do pecado e fez espalhar a cultura: "
Às margens plácidas".

[Rapariga desamparada apaga o cenário]

- Fecha as cortinas, moça! ( Ela grita )

Imprópria é a réplica, fazendo massagem no rodapé das páginas.
Passando a língua sobre o papel.
Tocando de leve, a prosa...
As pontuações também vestem Prada.
Vê se ela está na esquina!
A união das arestas nos becos escuros.
Uma ferida, desmaio.
O ponto G teatral.
Mais versos, ilustrados.
Rendo-me.
"Desafia o nosso peito a própria morte".
Protagonista. Uma contadora de estórias.
Sem querer, a tua íris me fez personagem.
Através das tuas pupilas, viro uma biografia, drama predileto.
A mulher , afirmo, faz parte desta coleção.
Que abre as cortinas com um piscar de olhos
(dela).
Cai.
Estonteante, ela acende a luz do palco nobre.
Endireita os cabelos para o próximo espetáculo.
E...

"O teu futuro espelha essa grandeza".

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Colírio.


O rapaz dirigiu sua avidez e alguns pretextos para crer em algo inesperado. Ele iria aproximar-se da favela, brigar com uns traficantes, dominar a boca de fumo e encontrar a mocinha. Em seu quarto, ela cantava. De lado, contemplava o vidro da janela e o trilho estreito por onde o herói passava. Isso não era certo. Os poros em calafrios, o vestido apertado, um laço no cabelo, e a donzela não deu-se por vencida. Estaria travada a terceira guerra mundial. Se os enigmas tivessem asas? Uma pena, nenhuma pessoa, necessitaria de compaixão. Ele estava com azia. O vestido. Fácil? O laço, límpido.


A seguir...

A porta já tinha sido aberta, por ela. Assim como umas cartas jogadas pelo chão.

Ele deu um pontapé na porta, do mesmo jeito.

Ela tinha uma menina triste tatuada no braço. E ele, um lírio na mão.

Passageiro.




Você tem autoridade de escrever o que pretender, sou eu quem instigo os versos. Você tem a possibilidade de compreender o que deseja, mas eu sou teu desejo,somente.
Pinte um quadro, eu aprecio.
Fale, eu retruco.
Cante, eu dou o tom.
Chore, eu sorrio.


Siga em frente, desapareça, enfrente.
Conheço bem o cheiro da sua satisfação, do seu remorso...
Logo que pensar que fez o suficiente, eu verei teus lábios cor de rosa...
Desabrochar, em beijos.
Lábios que têm a mesma medida que os meus.
Giro meu corpo dentro dos seus discos de vinil.
"You´re so vain , you probably think this song is about you."
Entre os teus cabelos, na grama, imploro, paro.
Na tua terra, estampo o estéril e planto uma chuva.
No meu corpo, não há tristeza em ti.
Que valor tem se, neste pedaço, sou propriedade e momento?

Esquecido


Sangue, suco, olha os meus punhos!Um sulco! Olha esta fratura exposta. Examina meus músculos esvaziados de ti. Ainda assim, preciso escrever. Preciso sair, pra beber. Coloco uma roupa de festa e vamos ao ar. Eu, a lua, meus cabelos vermelhos e tua sombra. A força da minha ironia é equivalente ao teu mísero ser. Com um coração que pesa menos de dois gramas. Com um caráter menor do que dez centímetros. Alguns quilos da ausência do teu corpo. Em mim...

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Divagar


Naquela tarde caía um temporal, despi-me, liguei o chuveiro no inverno, cantando “Dois barcos” sem afinação. A água, tépida. Quase não pude desenhar um coração partido. De jaqueta e botas, fui comprar mais cigarros. De coração atormentado, cruzei uma pequena ponte. Por entre as árvores, olhando pra baixo, passei através da rua e esbarrei em você.Naquela ponte cinza, despi-me. Tinha água tépida nas minhas botas. Esbocei árvores, a rua cantava, desafinada. Partida, esbarrei na pedra, meu coração desabou em ti, saí passada. Havia uma bicicleta cinza, era sua. Minha jaqueta não tinha tom. Cantei, passada, no meio da rua. Olhei para o céu. Tomei outro banho. De chuva. Esbarrei nas botas, caí entre o coração partido, despi-me. A manhã era cinza, fazia um temporal no meu coração. O meu cantar tépido ecoou em notas partidas. Era você na minha jaqueta, nas botas molhadas, nas avenidas, entre as árvores, mas a ponte você atravessou. Meu coração ficou em cinzas.



Bossa Nova


Ela é roqueira e canta música popular brasileira. Folhetim no tom do contato entre dois lábios. Ardentes. Sexy MPB. Com melodia de tingir o sexo masculino. Em acordes de cereja com lírio, de cravo e canela. Gemidos em bolinhas de sabão. De caminhar harmonioso. Notável. Afirmo, ela gosta de rock. Psiu, mas é só uma senhora. Abandonada. Com prazer, e, devo assegurar: Intuitiva e dona de uma suavidade sedutora. Não desconfie da energia da música. Da energia. Dela. Da música. Nela.

[ Vou te contar ...]

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Réplica


[Mais uns goles daquele verso, por favor!]

Embriagada.
Pelos teus olhos da cor dos meus.
Castanhos.
Ainda que não fossem de cor clara.
Deitaria, nas nuvens.
Sentaria. E chamaria um anjo.
Que ali dentro faz morada.
Fico de joelhos.
E vejo um mundo de belas palavras.
Esculpidas na auréola.
E encontrar...Um amor.
Com sabor de fruta do quintal.
Jardins bordados à mão.
Flor & anjo feitos ali pra enfeitar.
O céu.

[ Caí das nuvens ]

Este encanto de amar.
Da ternura na troca de vocábulos
Que tatuam meus versos em ti.
Nas tuas asas.
Todos os dias.

- Disse a flor-

Pingente.


Presumo que muitos são inspirados por poesias. Assim, cromossomicamente falando.
E aparentam mais do que sentem. Assim, exagerados.
Perfeito pra mim!Até porque não tenho afeição pela sobriedade.
[Sem apologias ao álcool]
Eu gosto de gente de boa-fé. Pessoas de caráter leve.
Gente que não teme. Um beijo. Abraço. Um aperto de mão. Um amor.
Amo gente no papel de presente. De seda, ou não. Com laço.
Gente de cor. Preta. Branca. Verde e amarela.
Diferentes. Embebedo-me daquelas que escolhem as palavras.
A dedo. Sem medo. Perdidas...Na lua. No céu.
Gosto de gente livre. Com gosto. Desgosto.
Pessoas com sabor. De pêra. Uva. Maçã. Ou salada mista.
Corajosas ou frouxas. Que desatam... Os nós.
Da gravata. Da garganta.
Amo gente do frio. Na barriga. No inverno, no verão.
Gosto de gente. Poeta, entorpecente.
De prosa com o lírio. De versos. Metáforas.
Figuras. Do beijo. De língua.
Da minha linguagem anti-social.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Eleva-dor.


[No elevador]

O riso contido. Dela. Um olhar saliente, dele. Gracejo. O faro subindo o pescoço. Dele.
O cheiro soprando as ventas, dela. Tocando as vestes. O contato leve dos lábios.

[4° Andar]

O espelho embaçado pelo suspiro. O sinal de amor. A simpatia entre os corpos.
O suor elegante. A vontade da primavera. O prazer do reencontro.

[Play]


- Fico por aqui, senhorita.
- Adeus.

[Aperta o botão, de rosa...]

DESafinados.





Chega de ouvir a mesma música.
Desejo cantar pra você.
Dois lábios que gozam do mesmo ritmo
(*)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Minha cara, meu verso.



Alinhei as regras. A lápis. Como uma música. Só pela satisfação de destruí-las. Depois. Sincera, eu fui. Só pra poder enganar. Assinei-me. Só pela graça de me sentir nova. Diferente. Outra. Apontei o amor, para sentir melhor as letras. Resoluta. Sou a minha própria ação reflexa. Do avesso. Declaro a minha outra forma. Viro a minha face. O verso seguinte. Fisionomia ignorada. Cara ou coroa? O outro lado da moeda.




7 anos de azar


Fico aqui, tanto de mim.
E você aí, espelho meu.
Com mais acerto...
Posso arriscar: Sou eu.
Olho pro espelho
Repudio o teu reflexo nele.
Rejeito teu brilho espelhado.
Uma moldura deteriorada.
É o que parece.
As linhas fora de foco.
Embriaga-se.
E sangra.
Sangra as proporções da tua pele sobre a minha.
Os olhos simetricamente dentro do outro.
Rasga-me o silêncio dolorido que atraímos.
E corroemos até o último retalho.
Até que ecoe o clamor do nosso espírito.
Um berro.
Meu.
Aliás, nosso.
Digo que não.
Contesto você em mim...
Qualquer sinal, ironia.
Cada desfalque.
Um contemplar incessante.
Mútuo.
Serenos.
Apavorados com o contorno fiel do medo.
Desenhado atrás de toda a verdade.
Fantasiado de impressionista.
Falso quebradiço.
Escoando no mesmo instante que eu apago a luz.
Como num ritual de autodestruição.
Tal qual um pedido...
Seja uma gorjeta qualquer.
Eu me amo.

Retrato do medo


Disfarcei-me de sossego
O excesso de ironia certas vezes:
Veste mágoa.
Desenho a minha própria imagem.
Um local qualquer.
Sem destino.
Atrás de mim...
Uma paisagem solitária.
Uma curiosa estrada.
Isolada.
Habitada por muitos receios.
Tanto só.



terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Tóxico




Se eu derramo lágrimas
A culpa é tua.
Estou dentro de uma caixa.
Em conserva.

A dor que sinto
É pelo resíduo ácido que esvaziou na minha boca.
Tua libertinagem a me penetrar as artérias.
Tua doçura a confundir meu sangue.
Fecundando a minha alma.

Choro.
Sal.
Suor.

Inverto a rosa-dos-ventos
Os métodos.
Mas os nossos fantasmas reaparecem.
As pessoas loucas, com pressa.
E você, no teu curto espaço.
Breve.

Uma noite.
Um carinho.
Teu esboço, teu castigo.

domingo, 7 de dezembro de 2008

As paredes têm ouvido



Deitada, pude auscultar a agonia. Pra mim, homens não sentiam dor. Julguei ser exclusiva. Ele resolveu falar comigo. Lacônico, particularmente. Como uma terapia para o meu universo. Pretendeu me encontrar. Mendigou até. Chegou com seu automóvel. (Que ar de independência!). Nunca deixou de ser subordinado à mãe. Miseravelmente, um burguês. De certo, eu havia mudado. Não pôde olhar nos meus olhos. Sentou-se. Acendeu um cigarro. Curvou-se. Ainda com a cabeça baixa, elogiou meu vestido. Corei. Perdera a boa aparência. Na verdade, estava um trapo, carinhosamente detalhando. Lembrou a nossa infância. Na hora, eu ri. Olhou pra mim. Ele disse que estava com saudades. Não foi bom ouvir aquilo. (Não foi?). Definitivamente, não. Pediu desculpas. Falou que não sabia amar. O silêncio. Olhei para o chão. Colocou a mão no meu queixo. Fiquei perplexa. Então, foi a minha vez de pedir desculpas. Não gosto de contato! Fazia frio. Pegou uma foto. Nossa. Um choro súbito. Lágrimas dele. Eu ri pela segunda vez, por dentro. O tempo que passou marcou nossas peles, lembrei. Um mesclado de silêncio e dor. Liguei o rádio. Recordo-me das nossas conversas. Ele ameaça um sorriso. Insegurança nos olhos. Daquela mesma cor.
Que pra sempre guardarei. Chegou perto de mim. Tinha o mesmo cheiro. Italiano. Hesitei.
Toma conta de mim? (Falou baixinho no meu ouvido). Peguei um lápis. Desenhei uma mulher. Chegou mais perto. Fechei os olhos. Mostrei a porta. Ele não mudou.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Sem espinhos.


[Andando sobre os fios]

Caí da cama.
Desesperadamente olhei para o espelho
Sorri. Fiz caretas. Gritei, assim, loucamente.
Um monte de silêncio era a imagem refletida.
Meus receios retratados. Ali!
Na minha frente.
Naquele objeto.
O desgaste da alma.
Nesse caso...
Somente quando a dor foi embora...
Olhei no espelho novamente.
E consegui me ver.
Consciente do valor dos meus sonhos.
Fui tirando as farpas.
Devagar.
Uma por uma.
Dando uma nova forma ao meu rosto.
Um aspecto lírico.
Enxerguei a profundidade dos meus atos.
Das coisas.
E tornei-me: o ser.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Refresco!


O brilho fresco.
Ilumina a imaginação.
Testando algumas tintas...
No retrato branco e preto.
Corrigindo utopias.
Apago o pesar.
Arranjo uma paisagem qualquer.
Nasce um terror falso.
Rubor do que não enxergam em mim.
Escolho a tinta vermelha.
Não entendo.
Essa cor não é minha.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

"Gis"




Ela toma um gole de lírio.
120 bpm!
Estranha e ouve: Jazz, samba e rock and roll
Uma imagem à cabeça:
Cabelos cortados.
Caras pintadas.
Roupas rasgadas.
Alguns trocados.
Semáforo.
Cigarro.
Fósforo aceso.
Buzina dos carros.
O vento sobre as “má”deixas vermelhas.
Mais álcool.
Risos.
Já na anatomia?
Suor.
Beijos.
Corpo.
Poesia.
Ciência.
Aristóteles no papel.
Los Hermanos nas veias.
Estudo clínico orientado.
A primeira nota:

Sol!

Jazz aqui o amor...







E na ausência de ruídos.
Gemidos...
O sossego!
Investiguei alguns sinais na minha alma.
Qualquer vestígio de ti.
Procurei então...
Pistas tuas na minha pele.
E...
Silêncio!
Senti falta do amor que inventei outrora.
Não “te” desejo pelo que criei.
Tenho saudades apenas de mim.
Antes de ti.
Só.
Olho pra trás e inverto os papéis.
Rabisco teu nome na lápide.
Ao contrário do meu.
No testamento:
Uma rosa colombiana de lembrança.
Uma cola.
E um coração partido.

Corda bamba


Não sei se você já entendeu, mas...
Sou arisca.
E evito os bons tratos.
Eu disfarço.
Faço, refaço: Um traço.
Só meu, seu, deveras nosso.
Todo o tempo.
Intimidada, sem graça.
Outras, mal humorada, calada.
Apavorada!
Sinto-me presa.
Na corda bamba do tempo.
Em alguma rua estreita...
Faltou luz.
Fatalmente...
Sou tua.
Tanto que olho no espelho e não me vejo.
E mesmo muitas vezes sentindo-me vazia;
Calculo os benefícios.
Será que tem algum?
E se casualmente implorar pra que desapareça da minha vida?
Você regressa.
Regressa?
E depois de algum tempo.
Encontra-me estéril.
Crua.
Sem receios.
Ainda mendigo um aperto.
De perto.
Sem ser no peito.
Olha pra dentro de mim, agora!
Transparente.
Cubra-me com rosas.
Componha em mim beijos
O que eu ouço como amor.