quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Paz,(is),(ís)?


Jacob despertou-se com o admirável sossego que bordejava onde morava. Seu pai tinha ido comprar alguns matzás. Era melhor assim. Os dias estavam muito arriscados ultimamente. Então, sozinho, ele aguardava. Seus coleguinhas? Não os via mais.Procurava saber sobre eles com seu pai, mas a resposta era um olhar sobressaltado e árido. Não chovia mais nos olhos dele, começou por um triz a sentir falta de quando chovia nos olhos do seu pai, até mesmo quando sua mãe havia partido. Olhava para o horizonte e na tela de pintura somente destroços. Sua cidade estava arruinada. Nas ruas, cadáveres estampados como azulejos. Projéteis sólidos desenhavam o chão. Perguntou para o pai para que servia aquele metal. E com os mesmos olhos secos, explicou-lhe. Sentia sede. Segurou o choro, não era permitido soluçar alto naquele local. Nenhum ruído. Só ruínas. Mas não conseguiu. Olhou para o céu e caiam gotas nos seus olhos. As lágrimas deslizavam-se, tímidas e silenciosas pelo seu rosto. Sentia muita sede. E bebia o líquido que beijava seus lábios. De um amarelo pálido, da cor do deserto. Seu coração sangrava da mesma maneira quando perdera o pai. Andava por entre as ruas, os corpos, as armas, os soldados... Sentou-se e chorou! Clamou por seu pai. Ali mesmo, de joelhos. Pôde ouvir o som da própria voz. Nenhum barulho. Nem as bombas, nem as guerras, nem sinal da terra prometida. Pegou o projétil e abraçou com seus braços pequeninos. Olhou para o céu, já com o olhar estéril e peito apertado e fez um pedido. Eles regressariam.

Um comentário:

Renan Moreira disse...

Que vontade de sair por aí avisando da tua perfeição..
Lindo o que escreveu.
Assumo que ganhei um tapa na cara.

Aplausos pra você. Muitos deles.

Beijos dos prazeres de ler-te