sábado, 17 de janeiro de 2009

A rede.

Imagem : HiddenHallow

Deitou-se na rede. Fechava os olhos e tentava trazer à memória a época em que caminhava tranqüila pelo jardim. Colhiam-lhe flores todas as manhãs. Ela abria as cortinas para deixar entrar um pouco de luz. Sempre com um sorriso de sol. Mesmo quando sua alma estava nublada. -Ele tinha olhos cor de sol. - Recordou-se. Ao lembrar, percebeu que os olhos dele não tinham mais o mesmo tom, todos os dias tinham uma cor diferente. Conforme o tempo passava. A última vez que o viu tinha um tom acinzentado, embaçado. Em seguida, o afastamento. A ausência de ruídos. Nenhuma pessoa pôde lhe explicar. Lentamente observou o desamparo total destes dias. Marcas de hipocrisias e descuidos de alguns manchavam as paredes por onde a rede estendia-se. Até que todos desviaram-se de vez. Sumiram. Ela continuou e aos poucos não trazia à memória a luz daqueles olhos da cor do sol. Por muito tempo não conseguia passar em frente ao jardim. Muito tempo, os de casar, ter um cachorro, uma casa de vidro, de ser feliz. Estava sozinha com as suas recordações. Olhava como a parede havia desmanchado. Por fim, conseguiu encará-la. Agora sabia que a vida não era feita de sonhos. Mas da fé depositada neles. Fé que faltara para dar luz aos olhos dele.

Um comentário:

Renan Moreira disse...

Saudades de algumas palavras que apareceram exatamente aqui..

Poetisa, não tenho muito o que dizer. Mas você já sabe de tudo.
Então fico feliz em poder te ler.
Ler tuas palavras.
Te ler.
Se pudesse te abraçaria, e daria um enorme beijo na testa!

Te ler.. mania gostosa que aprendi..